Um sítio arqueológico de 3.520 anos foi encontrado em Montes Claros de Goiás, na região oeste do estado. O coordenador de campo da pesquisa e arqueólogo, Matheus Araújo, da empresa Sapiens Arqueologia, explica que a descoberta foi feita após uma solicitação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para licenciamento ambiental em uma área de plantio de cana-de-açúcar.
“A gente está vibrando, porque não é fácil encontrar um sítio arqueológico com uma preservação tão grande. É uma conquista não só para a comunidade científica, mas para o público em geral, podemos falar um pouco de como nossos antepassados eram antes da chegada dos colonizadores”, comemora Matheus.
O coordenador explica que no local foram encontradas pinturas rupestres, pedaços de vasilhames, ferramentas de corte e raspadores de pedra, além de restos ósseos e porções de carvão (veja fotos abaixo). No mesmo local, a pesquisa identificou a passagem mais recente de outro grupo de pessoas, antes da colonização, mas a data deste não pode ser confirmada, conforme o arqueólogo.
“A datação mais antiga é de 3.520 anos, eram grupos humanos que não fabricavam muitos utensílios, mas lascavam pedras e rochas para caçar. Nós conseguimos a datação após encontrar amostras de Carbono 14 em pedaços de carvão”, explica o profissional.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/C/e/H4sljxRHOuwckVYHvIRg/sitio-arqueologico-montes-claros.jpg)
Sítio arqueológico de mais de 3,5 mil anos é encontrado em Montes Claros de Goiás — Foto: Divulgação/Sapiens Arqueologia
Após autorização do Iphan, amostras de carvão foram encaminhadas para o Laboratório Beta Analityc, em Miami, nos Estados Unidos, para datação por radiocarbono, que confirmaram a “idade” do sítio.
Segundo o Iphan, o sítio foi identificado em 2019, mas o resgate, que é o salvamento do sítio, só foi feito em janeiro deste ano. O instituto explica que até um sítio ser descoberto ele passa por diversas fases, primeiro a identificação, depois a delimitação e, por fim, o resgate.
Matheus explica que, no geral, o salvamento consiste primeiro na retirada dos objetos dos locais escavados para estudo e produção de relatórios. Em seguida, os profissionais os higienizam, remontam vasilhames e encaminham tudo para um museu ou universidade. No caso do Toca da Anta, os itens foram enviados ao Museu Histórico de Jataí.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/0/O/D1Rne1RWmKxJwhMqVcBQ/sitio-arqueologico.jpg)
Arqueólogos escavam sítio arqueológico de mais de 3,5 mil anos em Montes Claros de Goiás — Foto: Divulgação/Sapiens Arqueologia
O Iphan explica que o primeiro grupo que passou pelo sítio é considerado como de humanos “caçadores-coletores”. Já o segundo, de horticultores-ceramistas que, segundo o coordenador de campo Matheus, usavam os vasilhames para guardar água e comida.
“Para a segunda datação não achamos carvão para definir com certeza, mas relacionamos à uma tradição arqueológica que indicou que ele não é mais antigo que o primeiro”, pontua Matheus.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/p/p/tWo6j5TCyknTFGOH8f3g/pintura-rupestre.jpg)
Pinturas rupestres são vistas em sítio arqueológico em Montes Claros de Goiás — Foto: Divulgação/Sapiens Arqueologia
Matheus explica que a pesquisa conseguiu identificar algumas amostras de ‘ocre’, uma espécie de mineral bem vermelho, que indicou um caminho para a datação. O levantamento apontou que o material pode ser relacionado ao grupo de 3.520 anos, mas coordenador não descarta que o outro grupo possa ter feito.
“Essas pinturas estavam bastante desgastadas, porque o abrigo não tinha muita proteção de vegetação e o sol tem incidência na parte da manhã inteira, fora a ação chuva e vento. Mas identificamos padrões geométricos e cruciformes”, fala Matheus.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/T/M/c2wGqzRvA1bAWlddWjig/vasilhame-1.jpg)
Vasilhame é encontrado em sítio arqueológico de mais de 3,5 mil anos em Goiás — Foto: Divulgação/Sapiens Arqueologia
O Toca das Antas, conforme Matheus explica, é o sítio mais antigo encontrado durante a pesquisa, mas outros quatro também já foram localizados. Segundo o Iphan, na cidade de Montes Claros de Goiás, já foram identificados outros 19 e cadastrados pelo Centro Nacional de Arqueologia (CNA) do instituto.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/R/V/bd4CzyQLyY1bn2Fkitlw/vasilhames-na-escavacao.jpg)
Escavações em sítio arqueológico chegou a 2,5 m de profundidade, em Montes Claros de Goiás — Foto: Divulgação/Sapiens Arqueologia
De acordo com o Iphan, escavações alcançaram 2,5 metros de profundidade e foram encontrados mais de 3 mil artefatos de pedra e cerâmica. A área, que fica no Parque Industrial do Setor Elétrico de Bioenergia, foi delimitada em 7.640 m².
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/2/9/xHYRbASS24Ae1h4wxD6Q/vasilhame-2.jpg)
Vasilhame está entre os itens identificados em sítio arqueológico em Goiás — Foto: Divulgação/Sapiens Arqueologia
O coordenador da Sapiens Arqueologia menciona que o sítio foi denominado de “Toca da Anta”, pois tinham animais morando no local, que é uma espécie de abrigo rochoso. Matheus aponta que o primeiro levantamento e cadastro do sítio no Ipahn foram feitos em 2019, mas que as escavações foram realizadas de maio a agosto de 2021.
Trabalharam na pesquisa o coordenador geral Mozart Araújo, o coordenador de campo Matheus Araújo e os arqueólogos Pedro Procedino, Edward Koole e Paolo Werner (veja foto abaixo).
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2022/f/V/B2XFQERDGAOhE6wvG4gw/equipe-sapiens-arqueologia.jpg)
Equipe de arqueólogos encontra sítio arqueológico de mais de 3,5 mil anos em Goiás — Foto: Divulgação/Sapiens Arqueologia
Fonte