VEJA A NOTA NA ÍNTEGRA
Para quem não me conhece, ou só me conhece como filha de alguém. Eu me chamo Lívia Regina Prado de Negreiros Mendes.
Tenho 54 anos. Sou jornalista, cantora, compositora, escritora, gestora pública,produtora.
Parece muito não é? Mas podemos resumir para Artista.
Artista para quem não sabe é um fazedor de arte e espera-se que este fazer artístico aconteça além do sonho, do projeto. Realizar-se. Para tanto, existem algumas formas de fazê-lo, patrocínio, auto investimento, empréstimos ou tentar os editais.
Em 2019 trabalhei muito como produtora e foi um ano muito profícuo. Consegui patrocínio e coloquei o The Beatles Bossa Clube na estrada. Mas não faria sozinha essa produção, logo contratei uma equipe, bem grande e desde uma produtora certificada até os técnicos de som. Isso se chama cadeia produtiva. Gerei empregos remunerados com o meu pensar artístico. Isso é muito gratificante.
Hojem me deparo com uma matéria que me julga e culpa por ter ganho dois projetos dentro de um edital federal e com apoio logístico do município, num ano em que todas as portas se fecharam, de extrema gravidade sanitária, que foi o ano de 2020.. Este veio para criar alternativas para os artistas, não dando o dinheiro, em sua totalidade, para a mão de uma pessoa e sim para transformar um projeto em realidade. Foram dois livros. Os quais contratei produtores, administradores de rede, ilustradores, diagramadora, gráfica, revisores e posteriormente um profissional de áudio visual para transformar um lançamento em uma live de lançamento.
Bom, é óbvio que o recurso tem vários caminhos para percorrer até chegar nas mãos do criador do projeto e sua justa paga, visto que, o projeto vem de uma ideia original e esforço intelectual para criar.
Eu me recordo de quando ganhei o projeto pixinguinha, da Funarte, com o CD Duzir. Fomos agraciadas no Amazonas, eu e a colega artista, cantora e produtora Lucilene Castro. Pois no ano seguinte fui nomeada para uma função na direção cultural do município novamente e assim que entrei, uma matéria como essa veio querer denegrir minha carreira artística, insinuando que eu, por estar na prefeitura teria" pago'" para ganhar um edital federal.
Oi? Eu ganhei em 2008 e agora em 2009 eu teria pago para isso? Pois é. A lógica não costuma acompanhar essas matérias.
Meus livros hoje existem porque esse edital aconteceu e só tenho a agradecer. Não só por eles mas por todos os editais que ajudam os artistas. E então, peço licença para me referir a um dos primeiros editais que saíram da ideia, da cabeça dessa mulher que aqui escreve. Ele também foi incentivado por um recurso público e que teve o aval de grandes fazedores de cultura da época. Me refiro ao projeto valores da terra, que contribuiu para a carreira de tantos colegas artistas.
Eu aprendi com eles a ter coragem, a acreditar no meu potencial como acreditei no potencial deles
Eu busquei esse caminho e me orgulho muito mesmo.
e essa matéria me explicar porque, uma artista, com mais de 20 anos de estrada, não poderia concorrer num edital público, já tendo ganho um no passado e tendo concorrido algumas vezes em outros certames, festivais de música, editais nacionais etc... Eu poderia tentar entender a importância que me atribuem e a colegas que vivem de arte, sim eu também vivo do fazer artístico, como muitos colegas artistas que exercem outros trabalhos mas que dependem horas e estudos para se aprimorarem nessa grande mola propulsora da cultura que é a arte.
Não pretendo sair por aí processando matérias tendenciosas que nem sequer me procuraram para falar sobre esse assunto.
Ontem uma mocinha, me ligou perguntando sobre meus livros, se poderia ter acesso. Eu como sou muito educada, lhe disse que poderia vir buscar aqui e ela não mais ligou.
No meu tempo, jornalismo era mais sério. Hoje contam-se nos dedos os bons.
É uma pena, vergonhoso e injustificável pender ao julgamento público, através das redes sociais, uma pessoa que tem fácil acesso para conversar, que tem todas as informações inerentes a sua carreira artística par mostrar e ser retratada ali, como uma paraquedista, uma referência a filiação.
Isso foi desrespeitoso com a minha pessoa. Foi ofensivo e tosco. Aviso que irei continuar produzindo e tentando captar recursos aos meus projetos, que são diversos e quantitativos, com eles ter parcerias e com vários profissionais além de pagá-los dignamente.
Se houverem mais editais seremos todos possíveis.
Filhos de quem seja, todos somos filhos das artes e continuaremos a resistir.
RELEMBRE O CASO
A Lei Aldir Blanc (Lei Federal 14.017/20) que prevê auxílio financeiro ao setor cultural foi regulamentada pelo Presidente Jair Bolsonaro. A iniciativa busca apoiar profissionais da área que sofreram com impacto das medidas de distanciamento social por causa do coronavírus. O repasse foi feito para a prefeitura de Manaus, durante a gestão de Arthur Neto (PSDB), o município recebeu em 2020, R$ 4,17 milhões, o qual beneficiou somente 33 profissionais e instituições “de elite”. As informações constam no Diário Oficial do Município (DOM) do dia 25 de novembro de 2020 (veja no fim da reportagem).
Alguns artistas ligados a políticos, também, foram beneficiados no ano passado pela Lei Aldir Blanc: uma delas foi a filha do ex-governador Amazonino Mendes (Podemos), Lívia Mendes recebeu R$ 60 mil da verba pública para produzir dois livros.
A legislação foi regulamentada pelo Decreto Municipal 4.923/20 e previa R$ 20,08 milhões em recursos a serem distribuídos a artistas de Manaus, sendo R$ 14.086.000 de origem federal. Pelos dados do Diário Oficial, 509 projetos foram contemplados com artistas beneficiados em até quatro categorias.
Os critérios para a liberação do recurso estavam previstos em 11 editais: dez para o programa “Conexões Culturais”, voltado ao fomento de projetos artísticos e culturais, e um edital de credenciamento de auxílio a espaços comprometidos pela pandemia.
Mais de 1 mil artistas e instituições se inscreveram para ter acesso ao recurso. O valor definido por categoria variava de R$ 5 mil até R$ 150 mil. Pessoas físicas e jurídicas poderiam participar em mais de uma categoria.
Vinculado à Prefeitura de Manaus, o Conselho Municipal de Cultura (Concultura), sob a presidência do escritor Márcio Souza, foi o responsável pela Comissão de Seleção dos projetos.
A verba da Lei Aldir Blanc é proveniente do superávit do Fundo Nacional de Cultura e foi repassado ao Fundo Municipal de Cultura, que é gerido pelo Concultura.
A iniciativa teve como objetivo contemplar projetos de artes visuais, audiovisual, circo, cultura hip hop, cultura infância, dança, literatura, manifestações culturais, música e teatro.
‘Casarão de Ideias’
A Associação Casarão de Ideias ficou no topo do ranking de contemplados que mais receberam dinheiro da Prefeitura de Manaus, via Lei Aldir Blanc, um total de R$ 430 mil, segundo o Diário Oficial do Município.
O valor estava distribuído em R$ 70 mil para o projeto “Lugares que o dia não me deixa ver”, na categoria Artes Visuais; R$ 50 mil para o projeto “Cine Casarão – E viva o Cinema de Rua!”, na categoria Audiovisual; R$ 100 mil para o projeto “XI Mova-se Festival Solos Duos e Trios”, na categoria Danças.
O Casarão de Ideias obteve ainda R$ 60 mil para o projeto “O grafito é arte?”, na categoria Hip Hop; R$ 100 mil para o projeto “Pedalando por uma Manaus que se constrói”, categoria Manifestações Culturais; e R$ 50 mil para o projeto “Revista Ideias Editadas”, categoria Literatura.
No site do Casarão de Ideias, www.casaraodeideias.com.br não havia, até essa sexta-feira, 12, informações sobre as despesas empenhadas nos projetos beneficiados pela Lei Aldir Blanc, contrariando a Lei Federal 12.527/2011 (Lei da Transparência Pública).
Site do Casarão de Ideias
Dentro da legislação, o artigo 3º. prevê que instituições, associações e outras entidades que recebem dinheiro público devem utilizar os meios de comunicação para a prestação de contas à sociedade.
Presidente do Casarão de Ideias, João Fernandes foi um dos membros da classe artísticas em Manaus que considerou “imoral” a nomeação de ex-vereadores para trabalharem na Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult).
Com informações: Revista Cenarium
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