Escrito por Jefter Guerra
Considerada a Veneza do Amazonas, comparada a capital da região de Vêneto, no norte da Itália, por ficar, por pelo menos de cinco a seis meses sob o Rio Solimões, Anamã é um município que subsiste da economia agrícola e pesqueira.
De forma simples, a força de trabalho dos camponeses daquela região tem como característica básica e fundamental a produção, distribuição e venda de mandioca, do milho e da malva, seguido de outros plantios. Por isso, boa parte dos moradores do município de Anamã, se autodenominam agricultores. A cadeia produtiva agrícola de Vila Nova, umas das 30 comunidades do município, tem como mercado consumidor a cidade de Anamã e se estende até Manaus.
Uma outra atividade que rege a economia local, é a pesca. Mas para atender a grande demanda do consumidor do peixe com qualidade para a venda, no mercado, o pós pesca exige técnicas específicas. Isso se dá pela seguinte forma: após a pesca, os pescadores da comunidade Vila Nova vendem o peixe para o frigorífico comprador, local onde os compradores deslocam-se até ela portando gelos para fazer a compra da mercadoria.
O valor do pescado varia conforme o seu tamanho, ou seja, Peixe grande (Primeira Ordem) chega à custa R$7.00; o Peixe médio (Segunda Ordem), R$ 3.00; e o Peixe pequeno (Terceira Ordem), R$ 2.00.
Vale ressaltar, que a pesca praticada na comunidade não é realizada e nem transportada com o uso de barcos de pesca, no qual se precisa de uma armação e contratação dos pescadores, e sim, com uso de canoas movidas a remo e principalmente a pequenos motores, denominados de “rabeta” ou “rabetinha”.
Entre outras formas de subsistência das famílias, há criações de suínos e aves (galinhas), estes, porém, são citados como complementos de renda apenas para o consumo próprio dos moradores de Anamã.
Entraves na economia local
Mas como os pescadores e camponeses locais vivem em um entrave econômico muito grande por conta da cidade de Anamã permanecer submerso durante a cheia por cinco ou seis meses durante o ano. Por isso, eles afirmam que, neste período, há perdas na pesca e na produção de seu plantio, uma vez que as águas ficam contaminadas por conta da forte cheia, pela falta de a cidade não possuir um sistema de esgoto e um sistema de filtração de água potável, tornando o líquido também impróprio para o consumo humano.
“Começamos a perder a produção do plantio e da pesca no final de fevereiro com a cheia. Por conta dessa situação, fica difícil sustentar a família somente do que colhemos e pescamos antes da cheia”, lamenta o morador, Raimundo da Silva Batista.
Outra que fica aflita por conta da cheia que diminui a renda familiar, é a agricultora Cleomar Batista da Silva. “Sem produção, dependemos de ajuda para comer. Na outra cheia, em 2009, tivemos que esperar por uma cesta básica pra ter o que comer. Não tínhamos para onde ir por falta de condições. Rezo todos os dias para Deus nos livrar desse mal”, relatou Cleomar.
Anamã e seus ricos festejos
Mas não só do problema da cheia vive o povo de Anamã. Driblando as dificuldades, a família anamãenses consegue encontrar, no mês de junho, com a Festa da Farinha, realizada na comunidade Vila do Arixi, uma forma de movimentar com força a sua economia e trazer mais alegria para os seus moradores.
O evento tem como objetivo incentivar a produção de farinha, comercialização, segurança nutricional e melhoria na qualidade do produto, além de oferecer oportunidade aos agricultores familiares a demostrarem seus produtos e subprodutos oriundos da mandioca, gerando emprego e renda.
A festa teve início com apresentações diversas e com premiações de primeiro, segundo e terceiro colocado que se destacou no cultivo da mandioca. Foi premiado o agricultor com maior área plantada, com maior produção de farinha, e teve destaque na premiação a participação da mulher como maior produtora no município. O evento proporcionou ao público doações de amostras de farinha para degustação.
E no dia 3 de julho, a cidade, também conhecida como “Jóia do Rio” completou 38 anos com várias atividades culturais e esportivas que fizeram parte da programação. Na noite do grande evento, as apresentações na quadra Franciscana começaram pelas danças Portuguesas Estrela e Raízes de Anamã, além de uma salva de fogos e shows musicais completaram a festa de aniversário.
Já no dia 24 de Setembro, os festejos são para o padroeiro da cidade, São Francisco de Anamã, celebrado há 97 anos, ou seja, já existe antes da cidade se tornar município.
A celebração inicia com as novenas ao santo padroeiro e encerram com a procissão dos peregrinos e a última noite de arraial. A devoção à São Francisco de Anamã reúne milhares de peregrinos que chegam da zona rural, municípios vizinhos e da capital.
A festa movimenta também a economia do município, por conta do aumento na movimentação de pessoas nos hotéis, restaurantes e outros serviços.
Sua história
A história do município de Anamã conta que o seu primeiro povoado foi de antigos seringueiros vindos do Acre, por volta de 1936. E em 1968, este povoado foi elevado a distrito. Em 1976, através do decreto-lei nº 177 de 21 de Junho, oficializado pelo distrito de Anori, foi elevado à categoria de distrito ligado a Anori.
Mas foi em 1940 que o distrito tornou-se muito conhecido por seus seringais. Adotou, popularmente, o nome de Alto Seringal, porém esse nome não foi reconhecido pelo governo.
Moradores do local migraram em direção à Manaus em 1957, pela péssima condição de vida humana no local. E em 1965, o local passou a ser conhecido como Princesa de Anori, por populares.
Somente no ano de 1981, há 37 anos, pela emenda constitucional nº 12, conseguido em Brasília pelo então vereador de Anori Sebastião Pacheco Teles, que o distrito de Anamã fosse desmembrado de Anori, passando a ser reconhecido como o novo município de Anamã. E em 1982, durante as eleições municipais, vencia o primeiro candidato a prefeito da cidade, Sebastião Pacheco Teles.
Em conformidade com a Lei Municipal nº 298 de 26.09.2017, que estabelece o dia 31 de Janeiro, como o dia Oficial do Aniversário do Município de Anamã.
Atualmente a cidade pertence à Mesorregião do Centro Amazonense e Microrregião de Coari, localiza-se ao oeste de Manaus, distando desta cerca de 165 quilômetros. E ela ocupa uma área de 2 453,934 km² e sua população é estimada pelo IBGE de 2019, de 13.614 mil habitantes.
Um dos fundadores do nome Anamã, foi o Pajé Mathias e, segundo as versões mais aceitas o nome significa “Jóia do Rio” ou “onde a terra é grande”, mas as nomenclaturas eram frutos de indecisão entre a pequena população da cidade. Mas a junção do termo tupi “Ãnn,” quer dizer "Jóia, esmeralda" e a palavra “Mã”, quer dizer: Rio, grande, muito cheio, muita coisa.
O município conta com mais de 30 comunidades, cujas principais são: Arixi; Cuia; Novo Brasil; Mato Grosso; Nossa Senhora de Nazaré e as indígenas São José e Eware (Tikunas), Bom Jesus, Nova Esperança e Santa Luzia (Kokamas) na Ilha do Camaleão.
Foto G1/ Rede Amazônica